Reitora Sandra Goulart (no centro da mesa) com os professores Eduardo Neves e Isabela Pordeus (pró-reitores de pós-graduação) e Fernando Reis e Jacqueline Takahashi (pró-reitores de pesquisa) Foto: Raphaella Dias | UFMG
Os pesquisadores Ricardo Rodrigues de Sousa Junior (Ciências da Reabilitação), Frederico Barros de Sousa (Física) e Letícia Birchal Domingues (Ciência Política) conquistaram o Grande Prêmio UFMG de Teses, edição 2025. Os vencedores foram revelados em cerimônia realizada na noite desta terça-feira, 14 de outubro, no auditório da Reitoria, durante a 34ª Semana do Conhecimento.
Neste ano, 63 pesquisas de doutorado foram indicadas à distinção por seus respectivos programas de pós-graduação e receberam o Prêmio UFMG de Teses. Em seguida, uma comissão especial instituída pela Câmara de Pós-graduação escolheu, entre elas, os três trabalhos vencedores do Grande Prêmio em cada uma das grandes áreas do conhecimento, além de atribuir três menções honrosas.
Ricardo Rodrigues de Sousa Junior (Ciências da Reabilitação) foi o vencedor na grande área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e da Saúde, que recebeu 27 indicações. Frederico Barros de Sousa (Física) venceu na grande área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias, com 12 indicações. Letícia Birchal Domingues (Ciência Política) foi a vencedora na grande área de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes, que teve 24 indicações.
O Grande Prêmio UFMG de Teses 2025 indicou três menções honrosas, uma em cada grande área. Alex Júnio da Silva Cruz (Odontologia), na grande área de Ciências Agrárias, Ciências Biológicas e da Saúde, João Marcus Soares Callegari (Engenharia Elétrica), na grande área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias, e Gracila Ferreira Vilaça (Comunicação Social), na grande área de Ciências Humanas, Ciências Sociais Aplicadas, Linguística, Letras e Artes.
O resultado do Grande Prêmio UFMG de Teses 2025 corrobora o desempenho dos doutores formados na UFMG no Prêmio Capes de Tese 2025, divulgado em agosto. Na ocasião, seis teses da UFMG venceram o prêmio e outras cinco receberam menção honrosa, naquele que foi o segundo melhor desempenho da UFMG na história da premiação, criada em 2005. As teses de Frederico Barros de Sousa, Letícia Birchal Domingues, premiadas agora pela UFMG, e as de Alex Júnio da Silva Cruz e João Marcus Soares Callegari, menções honrosas no prêmio doméstico, haviam sido reconhecidas pela Capes em suas respectivas áreas. A tese de Gracila Ferreira Vilaça, menção honrosa na UFMG, também recebeu a mesma distinção na Capes.
Isabela Pordeus: desempenho acima da média nacionalFoto; Raphaella Dias | UFMG
Qualidade, diversidade e abrangência
Durante a cerimônia, que reuniu recém-doutores, orientadores, coordenadores de cursos e gestores da Administração Central, a pró-reitora de Pós-graduação, Isabela Pordeus, traçou um panorama da área na UFMG, que reúne 93 programas, sendo 80 acadêmicos e 13 profissionais. “Desse total, 74 têm cursos de doutorado, e 40 deles são avaliados com notas 6 e 7 da Capes, desempenho acima da média nacional”, ressaltou.
Em 2024, a UFMG formou 1.577 mestres e 911 doutores, e os 63 presentes na cerimônia “evidenciam a qualidade da nossa formação”, disse a pró-reitora, destacando, ainda, a diversidade e a abrangência dos trabalhos.
Ressaltando que presidia a última cerimônia de premiação em seu mandato, a reitora Sandra Goulart Almeida disse que mais uma vez o prêmio “distingue trabalhos que se destacaram por sua originalidade e relevância”. Para ela, a homenagem não se restringe aos autores das melhores teses defendidas em 2024, mas “a todas as pessoas que construíram essa história e esse legado de que tanto nos orgulhamos”.
Sandra Goulart: defender as universidades públicas é defender as novas geraçõesFoto: Raphaella Dias | UFMG
“Os agraciados de hoje e de edições anteriores constituem exemplo de resistência, tenacidade e de superação. Vocês exemplificam as possibilidades e o compromisso dessa universidade com a educação pública. Simbolizam nossa demonstração de força, altivez e de luta por princípios inegociáveis”, afirmou.
Ainda durante sua fala, a reitora ressaltou a necessidade de se defender a universidade, tema recorrente em suas manifestações públicas. “Defender a universidade pública significa defender o futuro das novas gerações aqui representadas por nossos agraciados. Isso também implica pleitear mais recursos para as instituições públicas, para o sistema de ciência e inovação, mais bolsas para os programas de mestrado e doutorado, mais bolsas de iniciação científica e o reconhecimento do trabalho dos pós-graduandos para uma aposentadoria digna”, afirmou.
Alfabetização física para crianças com paralisia cerebral
Um dos desafios enfrentados pelo campo das Ciências da Reabilitação é o de encontrar modalidades esportivas que sejam efetivas na alfabetização física de crianças com paralisia cerebral. Na tese Esportes modificados para crianças com paralisia cerebral: componentes da intervenção, efetividade e percepções dos pais e cuidadores, defendida no Programa de Pós-graduação em Ciências da Reabilitação da Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional (EEFFTO), Ricardo Rodrigues de Sousa Junior investigou o potencial que esportes modificados têm de colaborar com essa alfabetização. A pesquisa deteve-se sobre a atuação do projeto Sports Stars Brasil, desenvolvido pela EEFFTO em parceria com pesquisadores e instituições da Austrália.
Ricardo Rodrigues com a coorientadora da tese, professora Ana Cristina ResendeFoto: Raphaella Dias | UFMG
Realizado desde 2017, o Sports Stars Brasil visa promover o desenvolvimento de crianças e adolescentes com paralisia cerebral e transtorno do espectro autista por meio de atividades esportivas e recreativas – em especial, os esportes coletivos. A meta é melhorar habilidades motoras e sociais, facilitando a transição para atividades físicas na comunidade. A pesquisa de Ricardo Rodrigues de Sousa Junior comprova justamente os bons resultados alcançados no projeto. Sua tese foi orientada por Hércules Leite, professor do Departamento de Fisioterapia da EEFFTO e coordenador do Sports Stars Brasil. A investigação teve a coorientação de Ana Cristina Resende Camargos, da UFMG, e de Georgina L. Clutterbuck, da Universidade de Queensland, da Austrália. Neste vídeo da TV UFMG, Hércules Leite dá detalhes do projeto.
O futuro de chips, baterias, processadores, telas…
Na tese A broad optical characterization of defects and many-body effects in two-dimensional transition metal dichalcogenides, defendida no Programa de Pós-graduação em Física do Instituto de Ciências Exatas (ICEx), Frederico Barros de Sousa investigou e caracterizou os diferentes defeitos que comumente surgem nos dicalcogenetos de metais de transição bidimensionais (em inglês, “two-dimensional transition metal dichalcogenides”, ou TMDs 2D) e desenvolveu métodos para inserir intencionalmente novos defeitos nesses materiais, a fim de modificá-los ou gerar neles novas propriedades.
Os TMDs 2D são semicondutores com grande potencial de aplicação na próxima geração de dispositivos ultrafinos, já que têm algumas propriedades notáveis – em particular, as singulares respostas ópticas que demonstram.
O orientador Leandro Malard e Fernando Barros, autor da tese vencedora da grande área de Ciências Exatas e da Terra e EngenhariasFoto: Raphaella Lima | UFMG
“Apesar de defeitos que surgem não intencionalmente em TMDs 2D terem sido profundamente investigados nos últimos anos, os estudos de suas respostas nano-ópticas ainda são escassos, o que deve ser superado com o uso de técnicas ópticas de campo próximo”, escreve o autor na tese, aludindo a técnicas utilizadas em suas pesquisas. “Nós realizamos medidas ópticas e magneto-ópticas para estudar monocamadas dopadas de TMDs, utilizamos técnicas espectroscópicas amplificadas por sonda para investigar aspectos nanométricos de defeitos em monocamadas de MoS₂ e empregamos óptica não linear para provar TMDs 2D e suas heteroestruturas em regimes de altas excitações”, acrescenta Frederico Barros.
Vencedor do Grande Prêmio UFMG de Teses na grande área de Ciências Exatas e da Terra e Engenharias, seu trabalho foi orientado pelo professor Leandro Malard.
Representação da estrutura cristalina de um TMD: vista lateral das camadas de MoS₂Imagem: Frederico Barros de Sousa | Reprodução de tese
A luta por justiça trabalhista no ‘capitalismo de plataforma’
De quais dinâmicas de ação coletiva os entregadores por aplicativos brasileiros se valem para fazer frente às novidades do chamado “capitalismo de plataforma”? A pergunta orientou a pesquisadora Letícia Birchal Domingues, professora da Universidade de Brasília, no desenvolvimento de sua tese.
Um dos achados do trabalho é o atravessamento da dinâmica de mobilização da categoria por formas características dos ambientes digital e urbano, simultaneamente. “Os protestos são organizados centralmente no WhatsApp, as reuniões são on-line, há uma dimensão digital enorme acontecendo”, disse ela à Rádio UFMG Educativa, em entrevista veiculada no início desta semana. Ao mesmo tempo, o espaço urbano também tem forte influência, ela relata. “A violência, a precariedade da vida dos corpos, do estar na chuva e no sol, são várias coisas faladas o tempo todo pelos entregadores.”
Ricardo Fabrino, orientador, e a doutora em Ciência Política Letícia Birchal, autora do trabalho premiado na área de humanidadesFoto: Raphaella Dias | UFMG
Defendida no Programa de Pós-graduação em Ciência Política da Fafich, a tese de Letícia Birchal se valeu de entrevistas on-line realizadas com 22 entregadores das cinco regiões do país. A intenção era fazer um estudo de abrangência nacional, que representasse a diversidade da categoria. A análise compreende o período que vai de 2020 – época da eclosão da pandemia de covid-19 – a 2024, quando os “breques” (nome dado aos protestos da categoria) ganharam mais visibilidade. O ano, inclusive, foi marcado pelo debate sobre a regulamentação do trabalho dos entregadores, discussão que segue viva ainda hoje.
Além das entrevistas, a pesquisadora mapeou 127 protestos realizados de março de 2020 a dezembro de 2023, acompanhou duas manifestações, ingressou em grupos de mensagem instantânea abertos, em aplicativos como o WhatsApp e o Telegram, e monitorou outras redes sociais digitais. Sua pesquisa foi orientada pelo professor Ricardo Fabrino, do Departamento de Ciência Política.
A entrevista de Letícia Birchal, concedida ao podcast ‘Aqui tem ciência’, da Rádio UFMG Educativa, pode ser ouvida a seguir.